Relatora da comissão que acompanha a intervenção federal no RJ, Marielle Franco é morta a tiros
O avanço do fascismo, das forças do atraso e do conservadorismo da elite brasileira parece não ter limites. A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e o motorista que a acompanhava foram executados na noite desta quarta-feira (14) na cidade do Rio de Janeiro. No dia 28 de fevereiro, ela havia sido nomeada relatora da comissão na Câmara dos Vereadores que vai acompanhar a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Referência para o movimento negro e feminista, Marielle foi morta no momento em que vinha denunciando os abusos de autoridade e a violência contra moradores das favelas e bairros pobres da cidade, por parte de integrantes de um batalhão da Polícia Militar.
No sábado passado (10/3), a vereadora fez uma postagem em redes sociais reclamando da ação da PM em Acari: “O que está acontecendo aqui em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! o 41º Batalhão da PM é conhecido como batalhão da morte. Chega de esculachar a população! Chega de matarem nossos jovens”, escreveu. Crítica à intervenção federal no Rio de Janeiro, na terça-feira (13/3), ela denunciou um caso de homicídio. “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”
As circunstâncias em que o crime ocorreu ainda são nebulosas, e exigimos neste momento – assim como todas as forças democráticas – uma rápida e rigorosa apuração do assassinato pelas autoridades da área de segurança.
Trajetória – Marielle tinha 38 anos e se apresentava como “cria da Maré”. Ela foi a quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016, com 46.502 votos em sua primeira disputa eleitoral.
Socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), teve dissertação de mestrado com o tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo.
Marielle defendeu uma revolução “feminista, classista e com o debate da negritude”. Ela era uma apaixonada defensora da representatividade das mulheres nos espaços de decisão, “Não pode ter só homens brancos ricos, que nunca tiveram medo de saltar num ponto de ônibus escuro ou que nunca tenham sido assediados”.
Entre suas prioridades como parlamentar, ela destacou o combate ao déficit de creches na cidade. “É uma pauta que atinge mulheres negras e da favela”. Mãe aos 17 anos, só conseguiu trabalhar e concluir os estudos porque conseguiu inscrever a filha em uma creche com ensino integral, mantida pela prefeitura à época.
A vereadora também defendia um olhar de gênero na questão do transporte público. “Esse é o local em que as mulheres são mais assediadas”. Ela propunha que, na madrugada, seja possível descer fora dos pontos de ônibus, a fim de encurtar o trajeto feito nas ruas nestes horários. “Espero que todas as mulheres da Câmara, não só as feministas ou do campo progressista, venham garantir essa proposta concreta”.
Assista ao vídeo abaixo e conheça um pouco das ideias da vereadora Marielle Franco:
Confira a Nota do PT Nacional e a do Grupo Tortura Nunca Mais pelo assassinato de Marielle Franco
O brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, é um crime que atinge diretamente a cidadania e a democracia. Marielle foi executada no momento em que vinha denunciando os abusos de autoridade e a violência contra moradores das favelas e bairros pobres da cidade, por parte de integrantes de um batalhão da Polícia Militar.
O Partido dos Trabalhadores exige imediata e rigorosa apuração deste crime, que desafia abertamente a política de intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro.
Nossa solidariedade aos familiares e amigos da companheira Marielle.
Vamos prosseguir com sua luta contra a violência e os abusos contra os pobres.
Gleisi Hoffmann – Presidenta nacional do PT
Nota do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
O Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro se une a todas as pessoas e organizações na profunda indignação e tristeza com o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco.
Solidários à família, às/aos companheiras/as e amigas/os, o assassinato de Marielle, mulher, negra, favelada, apresenta-se como um aviso para que todas/os que lutam contra a violência do Estado. Diante dos fortes indícios, trata-se de uma execução política motivada pelas graves denúncias que a vereadora vem fazendo sobre a barbárie implementada pela Polícia Militar nas favelas do Rio de Janeiro, e mais recentemente na favela de Acari nesse domingo, dia 11 de março.
Consideramos seu assassinato a primeira execução política da Intervenção Militar no Estado do Rio de Janeiro. Entendemos que o país está sob um Estado de Exceção em que as forças fascistas estão agindo sem qualquer limite e avançando sobre a nossa sociedade.
Trata-se de um crime de terrorismo que busca nos silenciar.
O GTNM-RJ convoca a sociedade a se levantar contra o Fascismo.
Pela coragem, pela força, por não temer!
Sigamos juntos contra todas as opressões!
Marielle Franco presente, hoje e sempre!
Pela Vida, Pela Paz! Tortura Nunca Mais!
Repercussão internacional – Diversos veículos de comunicação internacionais repercutiram o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Jornais como o The Guardian (Inglaterra) e o New York Times (Estados Unidos) reproduziram em seus sites informações sobre o crime.
A agência espanhola Efe ainda lembrou da intervenção do Exército na segurança pública do Rio de Janeiro e destacou que o ataque aconteceu um dia depois de a vereadora voltar a criticar a intervenção em mensagem nas redes sociais.
A Anistia Internacional exigiu “uma investigação imediata e rigorosa” do crime, em um comunicado veiculado no Facebook da entidade defensora dos direitos humanos.